A córnea, a estrutura anterior do olho, é uma barreira transparente convexa. Existe para manter a estrutura do olho intacta e orienta a penetração de luz no olho com destino à retina. Anatomicamente está dividida em 5 camadas diferentes: epitélio, membrana de Bowman, estroma, membrana de Descemet e endotélio.
Camadas da Córnea
O queratocone é uma doença querática ectásica não inflamatória, caracterizada por uma protusão cónica da córnea associada a diminuição da sua espessura na zona do cone. Distingue-se das outras ectasias da córnea, como a degenerescência marginal pelúcida ou queratoglobo, pela localização bastante típica do cone, coincidente com a zona de menor espessura da córnea. É tipicamente bilateral, mas pode revelar-se bastante assimétrica. O cone geralmente tem uma localização paracentral temporal.
O queratocone terá, provavelmente uma origem multifatorial. A protusão da córnea causa alta miopia e astigmatismo irregular, afetando a qualidade visual. Normalmente o queratocone aparece durante a segunda década de vida (puberdade), no entanto pode surgir mais cedo ou mais tarde, progredindo até à quarta década onde normalmente estabiliza.
O queratocone representa a primeira causa de ectasias congénitas, afetando um em cada 2000 indivíduos. Esta doença congénita, não inflamatória, habitualmente bilateral manifesta-se como uma instabilidade progressiva do estroma, levando á redução da rigidez corneana.
Com o aumento da procura da cirurgia refrativa LASER para corrigir
miopia e astigmatismo, aumentou-se o grau de alerta para as doenças ectásicas da córnea, levando a que sejam detetadas numa fase bastante precoce, devido ao avanço tecnológico dos topógrafos/tomógrafos de córnea. Assim, é possível cada vez mais diagnosticar o queratocone em fases iniciais. Sendo o queratocone uma contra-indicação expressa para a realização da cirurgia LASER.
Existem várias classificações do queratocone, nomeadamente para estabelecer o seu estadio evolutivo. Podem ser classificados segundo morfologia e queratometrías (curvatura).
O queratocone causa distorção ótica com aumento das aberrações de alta ordem, resultando da irregularidade da córnea. Os doentes com queratocone descrevem um aumento da visão com o porte de lentes de contacto especiais.
O tratamento do queratocone divide-se em dois ramos:
1) Não cirúrgico, onde estão incluídos os óculos e as lentes de contacto especiais;
2) Cirúrgico, onde surge o cross-linking, os anéis intra-estromais e o transplante de córnea.
Transplante de Córnea
Como primeira abordagem do tratamento devemos sempre iniciar pela correção de óculos (estadios iniciais da doença) e lentes de contacto, resolvendo-se o ganho de visão na grande maioria dos casos com estes dois métodos, tendo um papel fundamental as lentes de contacto especiais.
Existindo progressão comprovada da doença deve-se optar pela realização do cross-linking, procedimento cientificamente comprovado como sendo o único a parar ou diminuir a progressão da doença. Este procedimento não tem como objetivo o ganho de visão, e é compatível com o uso de lentes de contacto.
Havendo intolerância ao porte de lentes de contacto, pode-se optar pelas outras opções cirúrgicas, tais como os anéis e o transplante. Ambas as técnicas tentam regularizar a superfície da córnea para fornecer melhor visão aos doentes, não garantindo ganhos visuais como as lentes de contacto especiais. É possível após a realização destes procedimentos a necessidade de usar novamente lentes de contacto especiais.
Informação retirada daqui
Rodolfo Moura
(Ortoptista)
Luís Torrão
(Oftalmologista)