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sábado, 10 de junho de 2023

Regras para implementação da Educação Sexual ...

As actividades propostas nesta agenda podem levantar algumas questões sensíveis e por vezes difíceis de gerir em sala de aula[1] . O professor deverá estar atento a tais situações, trabalhar em grupo as questões que surgirem, aproveitando para reforçar a importância da privacidade e do respeito pelo outro (questões pessoais de alunos e o apelo ao relato das experiências dos professores), e, se necessário, remeter para espaços mais adequados (por ex. o gabinete de informação e apoio ao aluno – artigo 10º Portaria nº196-A/2010 de 9 de Abril). Propomos, no entanto, que a definição de regras para as actividades se constitua, per se, enquanto actividade prioritária. De resto, é útil que os alunos tenham parte activa na construção das regras a manter durante as actividades, ainda que assistidos pelo professor, por oposição a uma comunicação/imposição das mesmas.
Aqui ficam algumas sugestões para aspectos a ter em consideração antes de começar a desenvolver as actividades:

Regras para a turma e para o professor
Não é permitido pressionar.
Não se devem fazer perguntas pessoais.
Todas as opiniões ou valores são importantes.
Ninguém é mais nem menos importante na sala de aula e todas as ideias devem ser debatidas.
Sempre que possível substituir palavras de calão por palavras científicas.
Quando não se sabe: perguntar e pesquisar.


Características importantes para o professor
Ser capaz de implementar um clima de confiança e de respeito pela intimidade.
Respeitar a confidencialidade sobre tudo o que for abordado, excepto em situações de potencial risco ou compromisso do bem-estar físico ou psicológico dos alunos.
Não se escandalizar, embaraçar ou ofender com facilidade.
Procurar parcerias que ajudem a desenvolver temas a abordar nas aulas, sempre que necessário.
Integrar pais e família nas actividades propostas.


Relativamente aos recursos disponíveis sugerimos que consulte nesta mesmo site, o capítulo relativo a contactos, leituras e sítios recomendados. Relembramos ainda que é fundamental contactar e envolver o agrupamento do Centro de Saúde local, entidade responsável pela implementação Programa Nacional de Saúde Escolar, no qual se enquadra a educação sexual escolar.



[1] Situações de descriminação (por exemplo a homofobia), suspeita de maus tratos, abuso, comportamentos de risco a nível da sexualidade, gravidez na adolescência, entre outros.

Técnicas de Educação Sexual


Download -  Técnicas de Educação Sexual


Para saber mais...

O trabalho em Educação Sexual é um trabalho complexo, sobretudo, pelas questões morais e éticas que implica.

Daí que o desenvolvimento de projectos nesta área exija simultaneamente conhecimentos técnicos específicos e reflexão individual e em grupo sobre a temática.

Para além disso, a abordagem dos afectos e das atitudes pressupõe também treino de competências pessoais e de comunicação.

Nesta secção, encontará não só informação sobre o contexto reflexivo da educação sexual, mas igualmente metodologias e actividades de aplicação prática nos diversos níveis de ensino, facilmente adaptáveis a situações concretas.

Não se esqueça que uma das regras básicas do processo de formação é conhecer o seu contexto e adaptar as sugestões ao grupo com o qual desenvolve trabalho.

A importância da Educação Sexual para o desenvolvimento do indivíduo

"Haverá quem diga que, no capítulo da sexualidade, o conhecimento é algo que lhe retira o encanto; mas poderá haver também quem imagine que o conhecimento é que irá resolver esse problema. Porventura, nem lhe retira o encanto, nem a resolve, como por encanto.

Antes de apresentar os conteúdos, a reflexão sintéctics que talvez eu pudesse deixar é que, para além de "fazer amor", há um "fazer do amor" ao qual importa atender. O amor é também uma forma de cultura, isto é, alguma coisa que se tem de cultivar. E, em todo esse processo, que é seguramente complexo, p conhecimento, sem retalhar encantos, pode constituir um ingrediente extremamente importante para a elevação e enriquecimento da qualidade que nós pomos nesse modo de habitar o mundo, a história, a vida e a relação com os outros".

José Barata-Moura

7 Regras básicas para o debate de ideias em Sexualidade

1. Crie um clima seguro e de confiança mútua;

2. Conheça os seus alunos/formandos;

3. Estabeleça regras com base no respeito mútuo;

4. Saiba ouvir;

5. Respeite as opiniões do grupo e de cada indivíduo;

6. Considere como pertinentes todas as questões;

7. Convide todos a participar no debate, mas permita que só participe quem quiser

Como implementar um projecto em EDS? 4 condições essenciais

1. Diagnóstico de partida

Para iniciar o seu trabalho na área da Educação Sexual, é conveniente começar por fazer um diagnóstico sobre a situação do tema na sua Escola:

Este tema já tem vindo a ser tratado na sua Escola?

Se sim, de que forma? Quais são os pressupostos teóricos utilizados? Tenha consciência de que existem diferentes perspectivas de abordagem da Educação Sexual. Por exemplo, há quem baseie o seu trabalho apenas nos aspectos biológicos da sexualidade, ou enfatize unicamente a informação de carácter médico, como forma de evitar a doença, ou ainda, quem foque a atenção na necessidade de abstinência por parte dos jovens e não discuta contracepção ou sexo seguro. Estas são apenas algumas das perspectivas possíveis de encontrar, apesar das Linhas Orientadoras da Educação Sexual em Portugal, publicadas em 2000, preconizarem uma visão holística do tema.

Por quem? Se o tema já é presença no plano curricular, convém saber quem tem tido a incumbência de desenvolvê-lo. O trabalho com toda a comunidade educativa é essencial e se já existem projectos desenhados e implementados deverá tentar conhecê-los o mais aprofundadamente possível. Não se esqueça que trabalhar em grupo é uma mais-valia, impossível de prescindir.

Como? Necessita também de conhecer quais as metodologias e os recursos pedagógicos a utilizar. Tente saber, na sua área geográfica, quem já produziu e testou materiais e quais as entidades que disponibilizam informação sobre este tema.Para quem? É essencial conhecer o seu público-alvo; quais as suas necessidades, questões e desejos acerca deste tema? Qual o seu contexto sócio-económico e familiar?

2. Procure informação sobre sexualidade

Não se limite apenas a pesquisar documentação sobre educação sexual; alargue a sua visão e tente conhecer as diferentes dimensões da sexualidade, numa perspectiva holística e integradora. A educação sexual não se restringe à transmissão de informação, implica trabalhar atitudes e são necessários também conhecimentos relacionados com o desenvolvimento de competências básicas de vida e de comunicação. Questões como valores, personalidade, auto-estima, imagem do corpo, género, expressão física, socialização são algumas das que compõem o tema da Educação Sexual e sobre as quais necessitará de trabalhar.

3. Posicione-se!

Reflicta sobre as questões morais e éticas que a Educação Sexual pressupõe;

Estabeleça o seu próprio ideário

4. Tenha uma linguagem e uma atitudes inclusivas!

Para ter sucesso no seu trabalho, é conveniente que tenha uma linguagem inclusiva, ou seja, que o seu discurso não exclua ninguém; tenha em atenção que hoje em dia, o conceito de família alargou-se e temos diferentes formas de agregados familiares: há crianças e jovens que vivem só com um dos pais, outros com dois pais ou duas mães...; substitua a referência a namorado ou namorada por relações de namoro de forma a puder abarcar todas as realidades...

Não parta de ideias pré-concebidas e nunca empregue ou reforçe estereótipos: não está provado que todas as pessoas jovens com determinada idade já tenham tido relações sexuais completas; não é certo que o seu discurso se dirija sempre a pessoas heterossexuais...

Metodologia de Projecto

1. Tomada de decisão acerca da implementação de programas de educação sexual


2. Obtenção do apoio dos órgãos de gestão e da família


3. Criação de um grupo de elementos pertencentes à comunidade educativa interessados em colaborar


4. Criação de um núcleo de acção que, trabalhando em equipa, desenhem o projecto propriamente dito


5. Desenho do projecto


Caracterização da instituição
Ambiente interno
Ambiente externo

Levantamento de necessidades não resolvidas

Inventário de problemas

Estabelecimento de prioridades

Definição das finalidades

Definição das estratégias

Definição dos objectivos

Definição das actividades

Discussão do projecto na escola

Aprovação do projecto

Objectivos e temas para o 1º ciclo

Objectivos para o Primeiro Ciclo 

Aumentar e consolidar conhecimentos sobre:
• Diferentes componentes anatómicas do corpo humano
• Fenómenos de discriminação social baseada nos papéis de género
• Mecanismos básicos de reprodução humana (elementos essenciais da gravidez, contracepção e parto)
• Cuidados necessários ao recém-nascido e à criança
• Significado afectivo e social da família, relações de parentesco e modelos familiares
• Adequação do contacto físico nos diferentes contextos de sociabilidade
• Abusos sexuais e outras agressões

Desenvolver atitudes de:
• aceitação das diferentes partes do corpo e da imagem corporal
• aceitação positiva da sua identidade sexual e da dos outros
• reflexão face aos papéis de género
• reconhecimento da importância das relações afectivas na família
• valorização das relações de cooperação e de interajuda
• aceitação do direito de cada pessoa decidir sobre o seu próprio corpo

Desenvolver competências para:
• expressar opiniões e sentimentos pessoais
• comunicar acerca de temas relacionados com a sexualidade
• cuidar, de modo autónomo, da higiene do seu corpo
• envolver-se nas actividades escolares e para a sua criação e dinamização
• actuar de modo assertivo nas diversas interacções sociais (com familiares, amigos, colegas e desconhecidos)
• adequar as várias formas de contacto físico aos diferentes contextos de sociabilidade
• identificar e saber aplicar respostas adequadas em situações de injustiça, abuso ou perigo e saber procurar apoio, quando necessário.

©APF Adaptado de Educação Sexual em Meio Escolar: linhas orientadoras/ Ministério da Saúde,
Ministério da Saúde e APF. Lisboa, 2000.

1º ciclo | Áreas da Educação Sexual

Área 1: O meu corpo
Tema 1: Anatomia e Fisiologia
Tema 2: Concepção, gravidez e parto

Área 2: Sexualidade e Relações Interpessoais
Tema 1: Género
Tema 2: Sentimentos, gostos e decisões
Tema 3: Os diversos tipos de relações
Tema 4: Abusos sexuais
Tema 5: Competências relacionais

Área 3: Expressões da sexualidade
Tema 1: Papéis sexuais
Tema 2: As famílias

Área 4: Saúde Sexual e Reprodutiva
Tema 1: Higiene e Saúde

1º ciclo | Áreas da Educação Sexual - Área 1: O meu corpo

Justificação

Nesta faixa etária, as crianças apresentam uma grande curiosidade pelos temas sexuais. As características do seu pensamento manifestam-se no interesse pelo seu próprio corpo e pelas diferenças relativas ao outro sexo (Sánchez, 1999) e à sexualidade dos adultos (Marques, 2000).

Depois da preocupação com o seu corpo, a sua curiosidade cristaliza na curiosidade sobre a origem das pessoas, fazendo com que procurem obter informações sobre a sua origem. Deve dar-se resposta às dúvidas das crianças, sempre com sinceridade, com verdade e partindo das suas concepções prévias (Espinosa, 1999b). Isto porque, a forma como a sexualidade da criança irá evoluir, está intimamente relacionada com as respostas que serão dadas às suas perguntas e ao seu comportamento perante a descoberta de um corpo sexuado (Marques, 2000).

Assim, pretende-se que as crianças obtenham conhecimento e aprendam a valorizar o corpo, dando importância a todas as diferentes partes deste, sem excepção, devendo realçar-se os aspectos positivos de cada pessoa e promover a auto-estima positiva. Para além disso, a abordagem do corpo deverá também centrar-se na compreensão dos mecanismos da reprodução humana, nomeadamente na concepção, na gravidez e no parto (Forreta, 2002).

As actividades que serão apresentadas de seguida, pretendem ajudar as crianças a conhecer o seu próprio corpo, as diferenças físicas entre meninos e meninas e aquelas, mais visíveis nas pessoas adultas, para que possam adquirir progressivamente uma concepção de corpo como fonte de sensações, comunicação e prazer (Espinosa, 1999b).

Objectivos pedagógicos

Alcançar conhecimentos sobre:

O corpo que cresce e que sofre transformações ao longo do desenvolvimento humano;

As diferenças anatómicas ente o corpo do rapaz e da rapariga;

A existência de diferenças físicas individuais;

A existência de semelhanças físicas individuais;

O corpo, enquanto fonte de sensações, comunicação e prazer;

O processo básico de concepção, gravidez e parto.

Trabalhar atitudes:

De valorização do corpo, como fonte de sensações, comunicação e prazer;

De aceitação do seu corpo e das funções do mesmo;

De reconhecimento das diferenças físicas individuais, sem conotações discriminatórias;

De reconhecimento da sexualidade como fonte de prazer, comunicação, afectividade e com função de reprodução.

Trabalhar e constituir competências para:

Entender a evolução do próprio corpo e do corpo humano, em geral;

Perceber a sua origem e o processo associado à origem dos outros;

Utilizar, de forma consciente, o corpo como meio de comunicação